O Impacto do Aumento da Tributação do Aço nos EUA para o Brasil e Ceará: Risco ou Oportunidade – Parte II
- E
- 12 de fev.
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No meu último artigo, abordei os impactos mais conservadores da nova tributação de 25% sobre o aço e o alumínio nos EUA, destacando como possíveis perdas de receita, o risco de desemprego no setor siderúrgico e os reflexos no câmbio. Esse cenário, sem dúvida, gera desafios para a economia brasileira e cearense, exigindo atenção e planejamento.
No entanto, toda grande mudança traz diferentes perspectivas. Agora, convindamos você a olhar para o outro lado da moeda: será que essa tributação representa apenas um risco ou também pode abrir novas oportunidades para a siderurgia brasileira?
Neste artigo, analisamos os possíveis caminhos estratégicos para o setor, desde a negociação de acordos comerciais até a diversificação de mercados e otimização da produção. Se você ainda não leu o primeiro artigo, recomendo a leitura para uma visão mais completa do tema. Agora, vamos explorar o que pode estar por trás dessa mudança e como o Brasil pode se posicionar nesse novo cenário.
Os Estados Unidos anunciaram a nova tributação de 25% sobre o aço e alumínio importados, e isso levanta questões estratégicas impactando diretamente empresas siderúrgicas multinacionais e brasileiras. Esse cenário pode gerar efeitos significativos na economia cearense e brasileira, principalmente para companhias como Gerdau, ArcelorMittal (Ceará e Espírito Santo), Ternium (Rio de Janeiro) e CSN (Rio de Janeiro), que possuem operações tanto no Brasil quanto nos EUA. Tais empresas podem ser afetadas de maneira distinta, dependendo de seu modelo de produção e exposição ao mercado americano.
Para avaliar os efeitos dessa tributação, é necessário compreender as dinâmicas do setor siderúrgico, a dependência da indústria americana em relação às importações, as condições competitivas do mercado global nos cenários de curto, médio e longo prazo.
Assim, dentro da dinâmica desse setor industrial, nos cenários propostos tem-se algumas possibilidades.
a) Curto Prazo: Um Mercado Dependente de Importações
No curto prazo, os impactos sobre a siderurgia brasileira devem ser moderados, visto que a indústria americana não tem capacidade produtiva suficiente para suprir sua demanda interna com sua produção atual equivalente a 4,2% da produção global. Esse fator pode forçar os EUA a continuarem importando aço e alumínio, mesmo com a nova tributação.
Entretanto, o efeito imediato será um aumento dos custos para empresas exportadoras, ganhando sua competitividade no mercado americano. Nesse contexto, a Gerdau, que opera nos EUA utilizando sucata metálica (100%) como matéria-prima (reciclagem e economia circular), pode ter uma vantagem competitiva, uma vez que sua produção local não será afetada diretamente pela tarifação.
Em contrapartida, as siderúrgicas que dependem da exportação de ferro para os EUA, como a ArcelorMittal (Ceará), Ternium (Rio de Janeiro) e CSN (Rio de Janeiro), enfrentarão um aumento significativo nos custos de transações, podendo perder mercado para fornecedores locais ou de países não afetados pela medida ou que tenham acordos unilaterais.

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços – MDIC. Elaboração: Autor.
Além disso, a tributação não é exclusiva para o Brasil e afeta todos os países exportadores, com um foco particular em produtos originários da China, Canadá e México. Esse movimento indica que a medida tem um caráter mais protecionista do que puramente econômico, estimulando a indústria siderúrgica americana em detrimento da concorrência externa.
b) Médio Prazo: Ajustes no Setor e Riscos de Desemprego
A siderurgia é um setor de capital intensivo, com elevado custo fixo e ciclos longos de investimento. Caso a tributação seja mantida (5 a 12 meses), os impactos podem se intensificar, especialmente se os EUA, conseguirem ampliar sua capacidade produtiva para reduzir sua dependência das finanças.
Nesse cenário, as empresas brasileiras terão três alternativas:
1. Absorvendo parte do custo da tributação, reduzindo suas margens de lucro para manter a competitividade no mercado americano.
2. Repassar o custo para o preço final, arriscando perder mercado para concorrentes.
3. Redirecionar sua produção para outros mercados, como Europa e Ásia, buscando compensar a perda de participação nos EUA.

Fonte: Instituto Americano de Ferro e Aço. Elaboração: autor.
Além dos impactos diretos sobre a indústria, há riscos de retração no setor siderúrgico brasileiro, o que pode levar a demissões e redução de investimentos. Regiões altamente dependentes da produção de aço, como Minas Gerais e Rio de Janeiro (volume de produção), Espírito Santo (logística e escoamento) e Ceará (volume de produção e escoamento), podem ser afetadas por um possível desaquecimento da demanda.
A concorrência com a China também deve ser considerada. O país asiático é um dos maiores produtores mundiais de aço respondendo por cerca de 52,9% da produção global le pode desviar suas exportações para mercados alternativos, gerando uma pressão adicional sobre os preços e dificultando a competitividade do produto brasileiro.
c) Longo Prazo: Estratégias de Adaptação e Oportunidades
No longo prazo, três fatores principais determinarão a previsão do setor siderúrgico brasileiro frente às novas tarifas:
1. Política Comercial dos EUA: O Brasil, que produz 1,8% da produção global, já obteve isenções tarifárias no passado, como ocorreu no primeiro governo Trump. Um novo acordo poderia ser negociado para mitigar os impactos da tributação, garantindo melhores condições para a indústria nacional. Um ponto de negociação a ser observado a favor do Brasil são suas compras de carvão dos norte-americanos de aproximadamente US$ 1 bilhão. Para não perderem cliente poderá haver um equilíbrio entre essas forças comerciais. Porém, há um desafio importante e atual: falta de diálogo entre as autoridades comerciais dos governos brasileiros e americanos.
2. Expansão da Capacidade Produtiva dos EUA: Embora o país busque ampliar sua produção de aço, suas reservas de minério de ferro são limitadas. Isso pode restringir as previsões de uma autossuficiência no setor e manter a necessidade de importação.
3. Diversificação de Mercados: As siderúrgicas brasileiras precisarão fortalecer sua presença em outras regiões, como União Europeia, Oriente Médio e América Latina, para reduzir sua dependência do mercado americano.
A longo prazo, o Brasil poderá se beneficiar investindo em diferenciação de produto, inovação e eficiência produtiva, garantindo que o aço nacional continue competitivo globalmente.
JUSTIFICATIVA DA TARIFAÇÃO E A ECONOMIA APLICADA
Entre as justificativas dos americanos está o custo elevado de produção do aço produzido nos EUA devido aos fatores ambientais, infraestrutura e trabalhistas tornando o aço importado mais competitivo e barato. Com a taxação, os insumos importados ficam mais caros (mesmo que artificialmente) gerando incentivo para o aumento de produção pelos produtores americanos e aumento de emprego.
Assim, tal política econômica pode ser analisada através de dois conceitos utilizados em economia aplicada.
O primeiro corresponde a teoria da vantagem comparativa (TVC). A TVC defende que os países devem se especializar na produção de bens nos quais são mais eficientes, promovendo o comércio global e maximizando o crescimento econômico. Tal taxação distorce esse princípio, pois força a produção interna de um bem que pode ser importado a um custo menor e com maior qualidade. Com isso, empresas americanas pagam mais caro pelo insumo, perdem competitividade e repassam preços mais altos aos consumidores. No longo prazo, essa barreira tarifária não fortalece a economia, mas a torna menos eficiente, reduzindo investimentos e prejudicando até os setores que tenta proteger e gerando mais inflação.
E, o segundo conceito onde a taxação de 25% sobre o aço pelos EUA pode ser vista como um jogo de soma zero, onde os ganhos da indústria siderúrgica americana ocorrem à custa de perdas para exportadores como o Brasil, por exemplo. Embora a medida pareça proteger empregos e impulsionar a produção local, ela reduz a competitividade global, encarece insumos para setores industriais americanos e pode gerar retaliações comerciais. No longo prazo, essa barreira artificial distorce o mercado, desencorajando a eficiência produtiva e limitando o crescimento econômico de todos os envolvidos. O protecionismo pode beneficiar alguns setores no curto prazo, mas enfraquece o comércio global e freia o avanço da economia como um todo.
Dicas de Planejamento Financeiro para Empresas e Profissionais
Diante desse cenário de incerteza, algumas medidas podem ajudar tanto empresas quanto profissionais a se prepararem para os impactos da nova tarifação.
a) Empresas:
✅Reservas financeiras: Criar um fundo de emergência para sustentar operações durante períodos de incerteza;
✅ Revisar contratos de exportação para avaliar a previsão da manutenção do mercado americano como prioridade;
✅ Aprimorar a eficiência operacional para reduzir custos e minimizar o impacto da tributação;
✅ Buscar incentivos fiscais e políticas governamentais que possam compensar eventuais perdas de competitividade; e,
✅ Explorar novos mercados para diversificar riscos e reduzir a dependência dos EUA.
b) Pessoas Físicas (Profissionais do Setor):
✅ Crie uma reserva de emergência para lidar com possíveis instabilidades no emprego;
✅ Investir em qualificação profissional para se adaptar às possíveis mudanças no setor siderúrgico;
✅ Diversificar investimentos, evitando a exposição excessiva a ações de empresas impactadas diretamente pela medida; e,
✅ Planejamento de longo prazo: Reavaliar metas financeiras e de carreira para se preparar para possíveis mudanças no setor.
Conclusão
A tributação de 25% sobre o aço e o alumínio nos EUA representa um desafio significativo para a siderurgia brasileira, mas também abre espaço para ajustes estratégicos e negociações comerciais. A manutenção da competitividade do setor dependerá de políticas governamentais, estratégias empresariais e adaptação do mercado de trabalho.
A economia cearense e brasileira pode sentir os reflexos dessa medida, especialmente se houver redução nas exportações e impactos sobre a cadeia produtiva. No entanto, com planejamento adequado e estratégias bem definidas, é possível minimizar os efeitos negativos e garantir um posicionamento sustentável para o setor siderúrgico brasileiro no longo prazo.
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